terça-feira, 10 de abril de 2012

Por amor ao esporte, técnicos se dividem entre empresários e pais de atletas



Professores se transformam em empresários para conseguir superar as dificuldades com falta de incentivo

Wendell Reis

O técnico da equipe Calvoso/Color Shop/Funcespp, de Ponta Porã, atua como professor de voleibol há 18 anos. Nesta vida dedicada ao esporte, ela já pensou diversas vezes em parar, mas seguiu, motivado, segundo ele, pelo amor ao esporte.

A dedicação faz o professor se dividir entre a função de empresário, técnico, amigo e até psicólogo dos atletas, geralmente na fase da adolescência. “Não é fácil”, resume o treinador, que chegou a comprar uma Kombi para transportar os atletas e incentivar a prática de esporte.

Apesar de incentivar os atletas, Ademir faz questão de dizer que não ilude os adolescentes. Experiente, ele sabe que são poucos os que vão conseguir se destacar e fazer do esporte uma profissão, mas pede para os atletas se divertirem, curtir e fazer amizade , lembrando que a história construída ali vai poder ser levada para os filhos e netos.

“Tento fazer do vôlei o mais divertido possível, dando carinho e amizade. Não iludo. Lembro que tem que estudar, porque o voleibol é passageiro. Mas, quando passar, o atleta terá o estudo para proteger”. Apesar de deixar claro que o esporte é instrumento de lazer, o professor se orgulha em dizer que tem dois atletas que recebem salário para jogar.

Ademir acredita que o nível do voleibol no Estado caiu bastante nestes 18 anos que atua como técnico. A explicação, segundo ele, está na falta de incentivo. O técnico relata que o esporte tem muita despesa e pouco investimento. Para conseguir viajar com os atletas, Ademir ainda recorre a rifas e chega a tirar dinheiro do bolso para levar as meninas para jogar. “As pessoas não dão valor para as categorias de base e é lá que surgem os futuros profissionais. Já pensei em desistir várias vezes. Só não desisto por amor ao esporte”.

O treinador relata que as próprias competições da FVMS (Federação de Vôlei de Mato Grosso do Sul) não favorecem as equipes. A distância da Capital faz os campeonatos do interior serem mais competitivos, visto que são mais baratos e com menos burocracia. Só com inscrição, a equipe gastou R$ 400, somado a hospedagem e até cozinheira, contratada para acompanhar a equipe em Campo Grande. “É uma via sacra participar. A federação deveria baratear o custo”.

Ademir entende que as empresas ainda não perceberam o quanto o esporte pode servir de marketing. Ele acredita que o Governo deveria valorizar o esporte, começando, a exemplo, com a isenção de impostos para empresas que investirem no esporte.

O professor Antônio Carlos, mais conhecido como D’Lua, explica que para conseguir manter o investimento no esporte precisa ser empresário e até atuar na política, trabalhando em secretarias de esporte. Segundo ele, infelizmente, as pessoas não têm um pensamento voltado ao esporte e os incentivos ainda são pequenos.

O técnico lembra que apesar das dificuldades, ainda consegue incentivar a prática de esporte, dando bolsas de estudo. Hoje ele tem 16 bolsas da Unib-Objetivo, que são distribuídas aos atletas. Destas, metade são custeadas pela Associação Atlético D’Lua, criada por ele para conseguir financiar os atletas. A vontade de continuar está no orgulho de ver os atletas se destacando. D’Lua conta que hoje tem três atletas que jogam em Maringá, em um projeto da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol).

Para exemplificar a despesa de uma equipe, o professor conta que gastou R$ 4,1 mil só com inscrição para os atletas do mirim, infantil e juvenil. Além disso, soma-se a este gasto as despesas com alimentação, transporte e hospedagem. Para cada atleta, o professor está gastando R$ 25 ao dia com alimentação e hospedagem em Campo Grande, o que avalia que não é um custo alto para uma empresa financiar e ajudar a tirar um adolescente da rua, do computador ou da balada.

Fonte: www.campograndenews.com.br

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